sábado, 17 de dezembro de 2011

Estratótipo Português da Murtinheira - Cabo Mondego

Um estratótipo é uma sucessão de camadas rochosas sedimentares com limites bem definidos, usados como referência, na caracterização de outras unidades estratigráficas equivalentes (como por exemplo: limites estratigráficos, andares, etc...).

Os estratótipos podem ainda ser classificados em simples (apresentam um único corte ou secção estratigráfica) ou compostos (conjunto de varias secções estratigráficas e define as unidades estratigráficas de classificação inferior à unidade definida no estratótipo).
Existem cinco tipos de estratótipo estabelecidos pelo Guia Estratigráfico Internacional (GEI, 1980), são eles:
  • Holostratótipo  
  • Parastratótipo
  • Lectostratótipo
  • Neostratótipo
  • Hipostratótipo

Por fim os holostratótipos e os parastratótipos são sempre tipos primários quando se define uma idade, enquanto que oa lectostratótipos e os neostratótipos apesar de também serem do tipo primário só são atribuídos posteriormente, quando queremos corrigir uma definição original que não está correcta ou que não já seja considerada válida. Por último os hipostratótipos são os únicos que se enquadram nos tipos secundários.

A partir do momento em que um estratótipo é apresentado e posteriormento aprovado pela ICS (International Commission on Stratigraphy) este passa a fazer parte do GSSP (Global Boundary Stratotype Section and Point).

Existem actualmente dois GSSP's em Portugal:

  • Peniche - Ponta do Trovão
  • Murtinheira – Cabo Mondego

Figura 1 - Cabo do Mondego, Figueira da Foz, Portugal


O cabo do Mondego está localizado na costa Atlântica Portuguesa, a cerca de 40 km oeste de Coimbra e 7 km a norte da Figueira da Foz.

Em Janeiro de 1996 foi-lhe atribuído pela IUGS (international Union of Geologic Science) o estratótipo (Global Boundary Stratotype Section and Point) do limite Aaleniano-Bajociano.

Figura 2 - Quadro de Divisões Estratigráficas de João Pais & R. Rocha 2010

Este estratótipo engloba alguns dos testemunhos mais importantes ocorridos durante o período jurássico para um intervalo de tempo que se situa aproximadamente entre os 185 e os 140 Ma.

É possível observar estes testemunhos ao longo do maior afloramento do período jurássico na Europa (que se estende pelas falésias do Cabo Mondego), com camadas monoclinais que mergulham a 30º S e sem que hajam grande variações das fáceis ou complicações estruturais. O afloramento é constituído por uma série de sedimentos marinhos e fluvio-lacustres que se estendem desde o Toarciano superior até ao andar Calviano médio com uma espessura que excede os 400m.


A secção Aaleniano-Bajaciano tem os seus limites compreendidos entre a base da Bed AB11 até 77.8m acima desta, sendo constituída no seu todo por uma alternância rítmica de calcários e margas do Cabo Mondego.

Este Afloramento constituído de materiais do jurássico como já referido, sem perturbações de natureza vulcânica, tectónica e metamórfica constitui boas condições para a presença de conteúdos fossilíferos com fragmentos de carvão, marcas de bioturbações, pirite disseminada e nódulos raros de celestite.

Neste conteúdo fossilífero do cabo Mondego é possível identificar-mos macrofósseis (lamilibrânquios, gastrópodes, bivalves, braquiópodes, plantas, peixes, crinóides, corais, ostreídeos, belemnóides e amonides), microfósseis (foraminíferos e nano-plâncton calcário), icnofósseis.

Um dos processos geológicos mais observados no Cabo do Mondego são as regressões marinhas onde se verifica uma diminuição do nível eustático, deixando a descoberto estratos que ainda apresentam uma estratificação entrecruzada. Este facto ajuda-nos a compreender melhor onde ocorreu a deposição dos sedimentos de maiores e menores granulometrias.

 Figura 3 - Regressão Cretácica do Cabo Mondego

Referências bibliográficas:

Imagens:

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